Primeiro dia
Acordei às 06:20 da
manhã do dia 09/10/2024. Para começar,
desço até a cozinha do hostel, esquentei a água do chimarrão para fazer o
desjejum, dona Vera logo chegou na cozinha e começou a preparar o café enquanto
eu tomava chimarrão, conversamos sobre vários assuntos recorrentes a cidade de
Iguape. As 07:40 sai pra rua e comecei meu tour. Primeiro fui na
Fonte do Bom Jesus de Iguape, lugar lindo e harmonioso e então subi a trilha
até a pedra Liga, levei uns 30 minutos de subida até o mirante que tem uma
visão espetacular de lá. Retornando peguei numa altura a esquerda uma segunda
trilha que me levou ao Mirante do Cristo onde também tem uma linda visão da
cidade de Iguape. Chegando ali encontrei um senhor ajoelhado aos pés do Cristo
com as mãos elevadas e numa dela segurando uma imagem de Nossa Senhora
Aparecida. Respeitei o momento do mesmo e me mantenho em silêncio, o senhor que
estava rezando era seu Júlio, que estava acompanhado do seu filho, que é
bombeiro de Iguape e Ilha Comprida.
Então, seu Júlio foi um maratonista de corridas de rua por muitos anos,
viajou o mundo participando e hoje ele está lutando e correndo contra o tempo,
pois está com Alzheimer. Porém a fé e positividade deste senhor é inimaginável,
somente ele sabe o que está passando, mas está fazendo de tudo para aproveitar
a vida até onde tiver consciência. Me incentivou muito sobre a travessia que
estava fazendo e pediu para nunca desistir de si mesmo, aquilo me esmoreceu,
puts. Falou que rezaria todos os dias para Nossa Senhora Aparecida me
iluminasse e me guardasse. Minha vontade era de ficar ouvindo suas histórias,
seus feitos, mas tinha que partir, seguir meu roteiro.
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Inicio Trilha Pedra da Liga |
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Mirante Pedra da Liga |
Me despedi dos dois e
desci as escadarias do mirante até chegar na cidade novamente. Confesso, chorei
ao descer as escadas, pelos exemplo de vida do seu Júlio e eu cheio de falhas e
dúvidas sobre a vida! Dali fui para a Casa Cultural de Fandango de Iguape que foi
inaugurado a pouco tempo. O Fandango é
uma parte muito importante da vida social das comunidades caiçaras no litoral
de São Paulo e do Paraná. Está expressão cultural envolve música tocada com
violas, rebecas e adubos, danças, sapateado e improviso de versos. Mas na casa
do Fandango encontrei seu Nelson que é um dos zeladores da casa, me apresentou
todo o museu e contou que Iguape foi onde o Fandango começou. Me convidou para
tomar um café caboclo que está disponível sempre no fogão a lenha. No local dão
aulas também de fabricação dos instrumentos de Fandango. Seu Nelson depois de
saber o que eu iria fazer, me convidou para participar no sábado seguinte
12/10/2024 da apresentação de Fandango em Cananéia e ele estaria por lá com o
grupo de Iguape. Hehehe, aceitei na hora, mas depois tive que agilizar meu
tempo para que conseguisse chegar a tempo em Cananéia para o Fandango. Me
despedi do seu Nelson e fui para o Museu Cultural de Iguape, que fica ao lado
da Basílica na praça principal na rua das Neves. Seu Ditinho, um senhor já de
idade avançada me acolheu na entrada e já foi falando comigo como se me conhece
há tempos. Me mostrou o pequeno museu que tem sua apresentação histórica muito
intensa naquele casarão, sem contar que segundo seu Ditinho ali foi no passado
áureo do Brasil colônia, a primeira fábrica de fundição de ouro, pois os
aventureiros estrangeiros subiam o rio Ribeira atrás do metal preciso e valioso
e fundiram para assim melhor transportar o mesmo. Me despedi de seu Ditinho e
me bandei para o hostel, pegar minha mochila cargueira para seguir caminho.
As 11:00 horas estava já me despedindo da dona Vera, dona do
hostel que com sua simplicidade fez questão de me acompanhar até a porta de
saída para rua, pedindo para que voltasse outras vezes. Então segui a caminho para a Ilha Comprida, que condiz com
seu nome, são 74 km de praia ininterruptas. Passei a ponte que liga Iguape com a
Ilha Comprida e cheguei no centro de informações turísticas que fica junto com
a rodoviária, procurei um mapa de toda a Ilha e algumas informações relacionada
a minha travessia e em seguida rumei para meu objetivo, o norte da ilha, pois
tinha que chegar até a Barra da Icapara que é o encontro entre Mar Pequeno e
mar aberto, extremo Norte da ilha. Antes passei num mercado, comprei duas
garrafas de água de 1,5L e tomates para comer, pensa numa delícia quando se
está com fome e você tem tomates puro para comer, hehehe...
As 13:00 horas
estava na praia caminhando, “bora” lá que tem chão, até o extremo são 16 km. Na
metade da tarde começou uma garoa fininha e foi aumentando, então saquei do meu
kit chuva, isolei minha cargueira, vesti minha amarelinha e vamos que vamos. Caminhar
com chuva na praia é difícil, pesa muito. As 17:36 cheguei ao extremo Norte da
ilha. Já fui procurar um ponto bom para acampar, pois o mar estava agitado e
ondas grandes avançavam sobre a praia, então me retirei o máximo que pude por
segurança. Barraca armada, já me recolhi para dentro de meu quarto exclusivo no
hotel de luxo no meio do nada na Ilha Comprida ao som estrondoso das ondas
arrebentando na praia, que maravilha. Tirei minha roupa molhada e já fui fazer
meu primeiro rango da travessia. Prato especial da casa sopa rápida com farinha
de feijão branco, farinha de arroz, farinha de gérmen de trigo e picadinho de
salame italiano, que delícia, o dia todo sem comer algo que sustentasse, aquilo
foi a refeição dos deuses. As 19 horas já tudo pronto, por incrível que pareça já
estava aninhado no meu saco de dormir, pois o dia foi cansativo, no total
andado do dia foram 32 km, isso que boa parte disso foi sem o peso da minha
cargueira que está com 17 kg. Mas em fim, estou carregando minha casa, meu
conforto tudo ali para minha façanha de nove dias de travessia. O sono não
demorou a chegar, pois só embalo da chuva e o barulho das ondas, Vanderlei foi
adormecendo.
Deus muito obrigado. Se você estará, eu estarei sempre...