Com 20 km de extensão a trilha do Itupava ou caminho do Itupava é desafiado por si só, uma trilha complexa de muitos detalhes e história. Para todos aqueles que estão iniciando a sua atividade em trilhas e montanhas, recomendo fazê-la pelo menos uma vez na vida! Desde 92 quando inicie minha atividade de montanhismo, a trilha do Itupava foi a primeira que conheci, embora a primeira vez que fui não tive uma boa experiência e resolvi ficar no Pão de Loth, mas isso fica para uma outra história. Após mais de 30 anos fazendo Itupava, dia 10/06/2023 foi minha aposentadoria dessa trilha maravilhosa e cheia de histórias.
Lá estava eu sentado em uma sala de aula, fazendo a minha
sétima série, já bem atrasado nos meus estudos, com dezessete anos e sem nada
de experiência de vida, quando colegas de turma me convidaram para fazer uma
trilha, que era nada mais nada menos que a trilha do Itupava. Foi a primeira
experiência negativa em relação a essa trilha, tendo que voltar no dia seguinte
pra casa bem chateado! O motivo? O tempo não ajudou muito. Mas no outro fim de
semana resolvi tentar novamente com esses meus colegas, e pronto, me apaixonei
por trilhas e montanhas e então não parei mais!
Em 2019 antes da pandemia, resolvi encerrar a trilha do Itupava, pois pra mim já estava de bom tamanho e já estava bem cansado de faze-la. A meta era focar somente nas que ainda não fiz e, que ainda pretendo fazer novamente. Porém, fotos e vídeos foram perdidos e também estou com projeto de marcar todas as trilhas que já fiz no meu wikiloc e ajudar outros montanhistas a seguir esse caminho.
Resolvi então mais uma vez fazer essa trilha, procurei alguém
que topasse baratear. Alugamos uma van, rachamos em 19 pessoas, e, neste ano de
2023, finalmente, marquei a minha despedida dessa trilha incrível! Não estava
disposto a pagar uma fortuna e me guiarem numa trilha que conheço tão bem,
então não foi fácil conseguir formar um grupo para racharmos o aluguel da van.
Não achava justo cobrar valores altos para me beneficiar, pois o meu objetivo
era finalmente encerrar ela de uma vez por todas. Pensei até em fazer como era
antigamente, pegar o ônibus no centro de Curitiba ir até Borda do Campo, começar
a trilha e finalizar em Morretes ou voltando de trem da estação Marumbi. Mas é
tanto empenho que hoje não estou a fim de enfrentar. Um amigo meu mesmo fez
isso, foi até a Estação do Marumbi para pegar o trem e teve que ir até
Morretes, pois o trem não parou por falta de vaga.
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Inicio da Trilha |
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Famosa pedreira do Itupava |
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Meu filho e amigo Vinicius |
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Pão de Loft ao fundo |
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Primeira ponte totalmente destruída |
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Segunda ponte, da pra passar |
10/06/2023 Finalmente Itupava!
Um dia quem sabe eu relato um pouco das minhas histórias percorrendo o Itupava, como avistar a noiva, ver uns caras fardados na casa do Ipiranga, tomar um chimarrão na estação Véu de Noiva com o pessoal que trabalhava lá. Conversar com o senhor que cuidada da Casa do Ipiranga entre outras coisas. Mas o foco será mesmo o dia 10/06/2023, um dia que foi marcado por superação, dedicação, companheirismo e novos amigos. Com a ajuda do meu amigo Luiz Gustavo que conhece bastante gente, conseguimos fechar a van com 19 pessoas. Saímos no horário marcado. As 6:30 da manhã, todos já estavam na van e indo em direção ao IAT (Instituto Água e Terra). Depois de fazer o registro partimos, antes mesmo do horário marcado, exatamente 8:00h começamos nossa trilha.
O dia estava lindo, não muito frio e nem muito quente, estava bem agradável. Fiz um pequeno discurso e dei boas-vindas a aqueles que estavam experimentado a trilha do Itupava pela primeira vez, e, partimos para a nossa jornada de caminhar o dia todo. A magia de fazer uma trilha, é que no momento ninguém se conhece e depois passa a compartilhar histórias, é uma experiência incrível! Aqueles com maior resistência física partiram na frente, enquanto eu e mais outra parte do grupo ficamos mais próximos uns dos outros. Foi nesse momento que conheci o Silvio, um cara que seria fundamental no final da trilha, se eu fosse descreve-lo diria que ele foi fantástico, parceiro, espirito de um verdadeiro montanhista, que mostrou sua capacidade de ser companheiro para aqueles que estão cansados e destruídos pelo tempo de caminhada. Conheci melhor o Gustavo, que me ajudou muito a fechar van, a Carina e a Evelyn que em algum momento na trilha iriam mostrar o que é determinação e coragem para chegar no destino final se superando a cada momento.
Partimos sentido casa do Ipiranga, meu filho Vinicius me
acompanhava o tempo todo, nossa meta era chegar entre 10:30 a 10:40. Passando
pelos trechos mais lisos da trilha, cientes de que tombos e tropeços fazem
parte da caminhada. Chegamos na gruta onde é possível pegar água, paramos para
umas fotos rápidas e partimos sentido Ipiranga. Antes de chegar é necessário
passar por duas pontes, uma delas está totalmente destruída e a outra requer
cuidados. A primeira passamos sobre o rio pisando em pedras evitando molhar os
pés, e a outra tivemos que passar com muita cautela, por estar bem deteriorada.
Foi ai que eu entendi o porquê do termo de responsabilidade que eles estão
exigindo.
Depois de mais de três horas de caminhada finalmente
chegamos nas ruinas da casa do Ipiranga, paramos ali mesmo para um lanche,
fomos para a roda d’agua para tirar algumas fotos. Evelyn estão estava um pouco
preocupada em passar a ponte que leva até a cachoeira da Roda d’agua, mas com
muito encorajamento e ajuda do Vinicius, meu filho, ela se superou e passou com
segurança. Ficamos algum tempo apreciando a natureza e então voltamos para a
trilha original do Itupava.
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Chegando |
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Ruínas da casa do Ipiranga |
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Roda D'agua |
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Cachoeira da Roda D'agua |
Próxima parada Santuário do Cadeado
Continuamos nossa trilha, nosso destino agora era o
Cadeado, um dos lugares mais bonitos e com uma vista privilegiada de todo o
complexo do Pico do Marumbi, mas para isso tínhamos que andar muito, mas muito
mesmo! Por mais que seja um percurso mais curto do que do início até o
Ipiranga. É um trecho que requer mais cuidado, pois descer com aquelas pedras
lisas não é fácil. O corpo já começa a sentir um pouco e o psicológico já avisa
que ainda está longe do fim. No começo o pessoal estava bem animado, mas
conforme segue o caminho alguns começam a se afastar mais e mais.
Mais um integrante dessa história foi a Carina, uma pessoa com uma história incrível de superação, ela não estava ali na trilha somente para conhecer o percurso e sim se superar! Sem reclamar, sem se distrair e totalmente concentrar, a cada passo que ela dava era uma grande vitória, e logo acreditei que ela conseguiria, mesmo com a dificuldade da trilha. Passamos pela primeira cachoeira depois de um bom tempo na trilha, paramos para descansar e tomar uma água gelada, subi até o pé dela para pegar a melhor água que rolava pelo vale. Uma parada rápida para agrupar todo mundo novamente, Silvio então passou a acompanhar a Carina até seu final.
Continuamos nossa caminhada, passamos pela segunda
cachoeira, resolvi fazer ali algo que nunca tinha feito, subir até o mais
próximo dela para tirar umas fotos. As pedras estavam muita lisas, então
resolvi ficar uns 20 metros longe dela para evitar acidentes. E depois de umas
oito horas de trilhas finalmente chegamos no Cadeado, nós agrupamos novamente.
Fiz um café para mim e para meu filho, fizemos um lanche e esperamos a passagem
do trem, o qual já era possível avistar perto da estação do Marumbi e logo
chega no Cadeado lotado de turistas. No Cadeado descansamos bastante, pois o
final da trilha nos aguardava, a descida do cadeado e a estradinha até o IAT.
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Primeira cachoeira |
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Segunda Cachoeira |
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Escada de acesso ao Cadeado |
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Santuário do Cadeado |
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Conjunto Pico do Marumbi |
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Amigo Gustavo |
Superando seus limites
Pra mim um dos trechos mais chatos de fazer com certeza é a descida do Cadeado até a estradinha e da estradinha até o IAT. Você está bem cansando com os pés doendo e louco para chegar no final. Saímos um pouco tarde do Cadeado, mas estávamos ali para aproveitar o máximo, já imaginei que pegaríamos a noite na trilha. O pessoal começava a se distanciar um do outro e cada um no seu ritmo, comigo seguia meu filhão e também a Evelyn e logo a trás o resto do pessoal, agora era só coração e cada um por si. E por último a Carina e com ela o Silvio que a acompanhou até final, como um grande montanhista que é e muito experiente, Silvio a ajudou até o máximo, não estava lá para relatar esse momento, mas acredito que a cada passo que a Carina dava era de vitória e superação.
A noite começa a cair e as estrelas começavam a aparecer no infinito universo, uma noite linda e uma escuridão total. Com a lanterna já apostos, e as horas da trilha passando, chegamos mais próximo do seu final já no escuro, passamos pelas ultimas pontes, tanto do rio São João como o rio Taquaral. Passando esse último rio a escada que dá acesso a estrada já estava muito próxima. E depois de aproximadamente 10 horas de trilha, finalmente chegamos à estradinha que dá acesso ao Pico do Marumbi à direita e à esquerda desce sentido IAT ou Morretes. Essa estradinha tem uma extensão da rodovia até a estação Engenheiro Lange aproximadamente 7 km, das escadinhas até o IAT e mais o resgate, um total de 4 km.
Quando finalmente chego o IAT, consigo contanto via rádio com o Silvio e com muita alegria ele junto com a Carina já tinham passado a escadinha e já estavam percorrendo a estrada. Chegamos no ponto de resgate e a van já estava nos esperando, era só um tempinho para aguardar o resto do pessoal. E as 19 horas, depois de mais de 11 horas de trilha, finalmente chega a Carina e Silvio, a superação dela foi incrível e em seu olhar era possível ver a emoção da vitória! Finalmente a trilha do Itupava vencida. Foram mais de 11 horas de trilha, escorregões e muitas risadas, desafios e superações, momentos bons e agradáveis, conheci um pessoal que realmente ama o que faz e determinados em ir até o final.
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Carina e Fernanda no seu destino final |
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Escadinhas de acesso a estrada |
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IAT nosso ponto final |
No dia 10/06/2023 encerrei essa história de amor a essa
trilha, que muitas das vezes me fez rir e também chorar. Em toda minha vida de
Itupava foram inúmeros tombos, um assalto e algumas assombrações, mas isso vai
ficar para uma outra história.
Reginaldo Nunes Mendes
Vinicius Cordeiro Mendes
Luiz Gustavo Casagrande
Cilene Rosangela Pereira da Silva
Silvio Cezar Marchioro Marcos
Evelyn Keith Ribeiro Scheffer
Samara Vieira Mariano
Andrea Vital Freitas
Roberson Damacena
Vagner Luiz Inácio
Amarildo do Espírito Santo
Giselli Ribeiro
Noeli Ap Flazio Lourenço
Thaís Andressa Lazaro
Thiago Fernandes Henriques
Gilmara Franco
Maristela Rocha
Carina da Silva Borges
Fernanda Oliveira Marks