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Montanhas do Paraná e do Brasil

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sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Pico Ferraria, o grande desafio





“Não é você que escolhe a montanha, é a montanha que escolhe você”


Desde que iniciei minha atividade de montanhista pela qual sou apaixonado, procurei sempre os grandes desafios de montanhas que estão em nossas proximidades. A região de serra do Paraná, como em Piraquara ou até mesmo Campina Grande do Sul, que abrigam várias montanhas entre elas o imponente Pico do Paraná, a montanha mais alta da Região Sul e também as mais difíceis como o Ciririca e o temido Ferraria. Lindas e espetaculares montanhas que fazem de nós apreciadores de desafios cada vez mais difícil. 

Fazer o Ferraria era meu grande objetivo, e desde o meu começo nas montanhas ela me fascinava, porém, sempre surgia algum empecilho para que eu não alcançasse-a. Nas três tentativas que fiz sempre surgia algum problema ou alguém não aguentava e tínhamos que abortar, ou o tempo impedia. Estava na hora de dar um basta nisso, e tentar mais uma vez. Então, surgiu uma grande oportunidade e perguntei para meu amigo Rogério se ele estaria disposto a fazer novamente essa montanha, como ele já tinha ido umas 2 vezes, poderia negar o pedido, pois se trata de uma montanha bem difícil de fazer. E ele não pensou duas vezes e na mesma hora me topou faze-la! 

Ferraria é uma montanha que tem seu próprio desafio, com seus 1745 metros e uma trilha que é pouco batida e fechada devido a sua pouca visitação. A falta de água e os infernais bambus a deixam mais desafiadora. Também tem o fator esforço, depois de uma hora de caminhada até o Getúlio ainda tem mais 2 horas para se chegar no Taipa, depois tem que descer o Taipa novamente até a base do Ferraria e subir toda encosta desta montanha, um tempo aproximadamente de mais de uma hora de subida. Você já chega morto lá em cima, e fora a volta que desce todo Ferraria e depois sobe o Taipa novamente, ou seja, você sobe e desce três vezes o Taipa não necessariamente nessa ordem. 

Saímos de casa já era um pouco tarde para começar essa montanha, chegamos na fazenda Rio das Pedras e estava tudo lotado de gente querendo fazer alguma coisa por lá. Na fazenda Pico do Paraná, era tanta gente que tinha carros até na parte de cima da estrada da fazenda, devido a pandemia o correto era ter controle para tanta gente assim, mas para alguns o que importa é o dinheiro que entra. Já imaginava que estaria assim, por isso até pensamos em outra alternativa, mas quando chegamos na fazenda Rio das Pedras, já estava mais tranquilo para deixar o carro. 

Começamos a trilha as 7:20 da manhã. Apenas em dois, logo atingimos o cume do Morro do Getúlio que estava lotado, paramos para descansar um pouco e comer alguma coisa rápida e tão logo partimos para o Taipa que seria nossa primeira ascensão. No cume do Getúlio tinha um senhor de chinelo de dedo e um cigarro de palha na mão, conversei rápido com ele e perguntei sua idade, 78 anos. 

Partimos para o cruzo, recolocaram uma nova placa de indicação para as montanhas, que ficou muito bonito. No vale que inicia o Caratuva e Taipa, estava sem uma gota de água, justo a nossa maior preocupação, pois estava muito quente e apenas 2 litros não seriam suficientes. O bastão que sempre levo e que me ajuda bastante, desta vez estava mais atrapalhando do que ajudando. Então decidi esconder em algum lugar, torcendo para não esquecer na volta. Serviço feito, agora o nosso primeiro destino e objetivo era alcançar o cume do Taipa. A trilha tinha muitas árvores caídas, que dificultavam a passagem. Bambus infernizavam as nossas vidas ao ponto de termos que nos abaixar muito para passar. O ar estava quente mas como estávamos sob as árvores o clima na ida estava até fresco. Em 3 horas de caminhada chegamos ao cume do Taipa, tiramos algumas fotos, e continuamos. De longe avistávamos o imponente Ferraria, fiquei me perguntado, como é que vamos chegar lá. Tivemos que atingir o terceiro cume do Taipa para depois começar a descer. Logo nos encontramos com um pequeno grupo que estava acampando no Ferraria, um deles nos informou que tinha água somente entre um panelão feito de pedra. E que a água era de confiança. Um dele logo nos perguntou: “- Vocês vão de ataque?” A resposta foi: “-Sim!”. E logo veio um exclama: “- Boa sorte!” como se falasse: “Vocês estão ferrados!”. 

Começamos a descer todo o Taipa até a base do Ferraria, levamos um pouco mais de 25 minutos para chegar, mas logo começou o desespero, meu pelo menos! Rogério estava em boa forma, mas eu estava bem acima do peso e, por estar muito tempo em casa por causa da pandemia do Covid-19, criei hábitos ruins na minha alimentação e não pratiquei muito exercício, somente bike. 

Cada passo que eu dava era uma vitória, minhas pernas estavam cada vez mais cansadas e dá-lhe gel de hidratação, se não fosse isso iria sofrer mais ainda. Demoramos um pouco mais de 1:20 para atingir o cume do Ferraria, uma euforia tomava conta de mim, um sonho realizado, mais uma grande conquista. Finalmente consegui atingir uma das montanhas mais difíceis do Paraná e quem sabe até mesmo do Brasil. Iniciamos a trilha as 7:20 e terminamos as 12:45, um pouco mais de 5:40 de subida, desfrutamos da bela paisagem. Um lindo mar de nuvens cobria toda a planície da serra e litoral. Uma imagem linda impossível de esquecer. De longe avistamos várias montanhas como os Capivaris, Camapuã e Tucum, Pico do Paraná e seus pequenos filhos, Saci e Sacizinho. Avistávamos também, toda a represa do Capivari, e seus arredores. 

Marcamos nossa descida do Ferraria as 13:30h, para quem sabe chegar até ao anoitecer. Sem chance! Com eu estava muito cansado e sem preparo físico minha subida novamente pelo Taipa foi um sufoco, muito quente e quase nada de água, comecei a sentir a exaustão, a cada passo que dava era uma grande vitória, me sentava para descansar e logo voltava à ativa. Estava já zerado de água, foi quando chegamos ao pequeno panelão de água entre as pedras, ali mesmo peguei a água que tinha e me refresquei. Rogério também não pensou muito, bebemos daquela água mas já nos preocupando com o que poderia vir depois, diarreia e mal estar. Mas isso não ocorreu no momento e nem depois. Pegamos mais uma garrafa de água que faríamos suco posteriormente e continuamos a nossa subida até o Taipa. Foi mais de uma hora e meia para atingir o cume novamente, onde encontramos alguns jovens que apreciavam a paisagem, conversamos com eles, indicamos o caminho para chegar ao cume falso da Taipa, contamos algumas histórias e descemos. 

A descida pra mim é até mais fácil, porém, minhas pernas e braços já não respondiam direito. Tropeços e escorregões agora eram normais. Logo os jovens que estavam no Taipa nos passaram com folga! Continuamos sem parar até chegar aonde eu tinha deixado “mocado” o meu bastão. Depois de aproximadamente 5 horas de descida, paramos no cruzo para comer aquele lanche gostoso: bolacha com suco da água que tiramos no panelão. Ficamos ali descansando uns 20 minutos, recarregando forças para a descida do Getúlio, que ao subir leva em torno de uma hora, mas quando desce parecem duas horas. Chegamos no IAP umas 18:40, entregamos a senha que nos autorizava a subir e fomos para o carro. 

Foram mais ou menos 11 horas de trilha intensa e difícil, dia quente, pouca água no caminho e muita gente nas trilhas, gente despreparada e muito lixo jogado por todo canto na trilha. Recolhemos alguns lixos deixados mas tinha muito lenço jogado também e que infelizmente não seria possível recolher sem um equipamento de segurança adequado como luvas descartáveis por exemplo, um verdadeiro nojo! O mais importante é com a grade parceria do Rogerio, um cara que um dia eu mesmo iniciei para montanha, conseguimos chegar no meu desafio que foi atingir ao difícil Pico Ferraria, uma montanha que estará para sempre em minha memória.


É la que vamos
É pra lá que vamos



Momento para descanso 



Pico do Paraná

Rogério assinando o Livro do Taipa



Pequena subida de corda para o Ferraria




Rogério do cume do Ferraria

Mar de Nuves, vista do Ferraria



Finalmente cume do Ferraria


Conquista 




Fim da subida do Taipa, voldando pra casa.

Ferraria vista do Taipa, subimos tudo isso.

Pôr do sol no Getulio


Obrigado amigão, pela parceiria e pela dedicação nas montanhas, foi um grande prazer apresentar essa paixao a você.   








Um comentário:

Rogério disse...

Obrigado Reginaldo Mendes, amigo e incentivador. Vencer essa montanha é sempre um grande desafio, e fazê-lo com um amigo não tem preço!