Já dizia o velho ditado, "um dia na montanha vale mais que
uma vida inteira na frente da televisão" ditado feito por mim (eu acho).
E assim começou uma das minhas maiores aventuras em serra, mato e quiçaça,
a alguns meses atrás fui convidado pelo meu amigo de montanha Reginaldo Mendes
do Blog "Montanha ativa" a realizar junto com outros parceiros
que em sua maioria desconhecia a travessia da Serra do Caparaó, serra esta que
abrange Pico Cristal, Pico calçado 2849 mts e Pico da Bandeira, altitude
2982 mts , esta última a maior do Brasil, por estar 100% em território
brasileiro, porém a terceira em altura, perdendo apenas pro Pico da Neblina e o
Pico 31 de março. Formado o grupo, e o chefe passando as informações, coube a nós
cumprir com orgulho e com garra, pois enfrentamos nada mais, nada menos que 39
horas dentro de van de 15 pessoas, somente pessoas loucas aceitam uma missão
dessa, bom de louco todo mundo tem um pouco, partimos então na data estimada do
dia 28/04/2017 até nossa missão. Com nossa saída as 20:00 horas, todos estavam muito antes no local
de embarque, alegres, dispostos, tive o prazer de conhecer os outros
montanhistas e uma pessoa que até então também é referência nesse mundo de
mato, Teresinha Tessaro, que só ouvia relatos e fotos de facebook, foi um
imenso prazer poder caminhar com esta figura mítica montanhista, claro além dos
outros parceiros super bacanas.
Chegando em Alto Caparaó, nossa, cidade do fim do mundo, ficamos
admirados com tanta montanha que aquela região tem, não são apenas as 3
montanhas, ainda existem algumas na mesma serra, que não foram feitas por nós,
devido o tempo não ser nosso aliado, e muito menos o vale encantado, uma
ambição nossa que devido o tempo também não foi deixado realizar (fica pra
próxima). Acampamento feito na região urbana da cidade, lá já tinham alguns
montanhistas de São Paulo e Rio de Janeiro também acampado pra conhecer o
monumental Pico da Bandeira, fomos muito recebidos pelos donos do camping, onde
jantamos, tomamos café e nos levaram na portaria do parque do outro lado da
Cidade, já área do Estado do Espírito Santo.
Fomos levados em dois 4x4, foi
muito bacana a interação dos motoristas conosco, até podem chamar Curitibano de
mudo, menos nós que fizemos a festa na cidade, já na portaria, fomos
devidamente cadastrados, bora subir de 4x4 até a área de camping, estradinha de
terra muito selvagem, com alguns pontos de lamaçal, nada que as 4x4 não
resolvessem. Todos preparados, com mochila nas costas, água e lanche, partiu
fazer a travessia, que já começou pegada, devido ao ar ser mais rarefeito, em
mim pelo menos senti falta bastante, como sempre tem o fecha trilha, ficou eu a
nossa amiga Perla, fechando. Enquanto os mais velozes foram pra cima do nosso primeiro
objetivo o Pico Cristal, e fomos com muita sede ao pote, em algum ponto da
trilha, não prestamos atenção e passamos batido o cruzo da trilha que ia ao
Cristal, quando nos demos conta estávamos subindo o calçado, bora voltar tudo,
não viajamos tudo isso pra deixar o cristal pra trás. No caminho da volta,
cruzamos com alguns montanhistas que nos indicaram o caminho, o visual está
muito fechado, achamos a trilha e bora matar o cristal no bom sentido da
palavra ( se é que tem bom sentido rs rs), na base do Cristal, uma montanha não
muito frequentada, sem marcações, um lajeado de subida bem tenso, fico
imaginando aquilo com chuva e raios, tocamos rumo a cima, ficando eu por último
e a Luciene por último. Enquanto todos subiram, acabamos pegando uma via errada
e quase descemos rolando a rampa, bom era morte certa, saído da posição errada,
procuramos o ponto de subida e bora, já no cume, paramos pra lanchar, mandei
uma vitamina pra dentro.
O cume estava fechado, em alguns lampejos de abertura,
aproveitamos e batemos várias chapas, feito o cume, já descemos com cautela,
pois qualquer descuido sai todo mundo rolando a rampa. Não chega a ser
complicada, achei bem mais tranquila do que a rampa do tão temido por alguns do
Ciricia na nossa serra; bora descer a trilha e voltar a trilha onde estávamos
subindo o calçado, trilha super aberta e bem tranquila, sem muitas
dificuldades, ponto alto, chegamos no cume do calçado, que nada mais é do que
uma ombreira do Pico da Bandeira, como se fosse o Samambaia ombreira do Anhangava. O cume do calçado é bem bacana, lajeado grande e tem toda a vista do
Bandeira, que naquela hora só dava pra ver a Cruz, símbolo do cume, instalada
no período histórico do Brasil, lanche feito, forças retomadas, partimos rumo
ao objetivo final, o Bandeira, uma descida rápida e um subida congestionada
pois tinha várias pessoas no local, fui o último a subir e parti direto pra
cruz, a cruz religiosamente representa o cristianismo, na época religião
oficial do império. Várias chapas tiradas, não tivemos muita visão das
montanhas ao redor, pois o clima não ajudou na vista, mas nos lampejos de
abertura, aproveitamos muito, depois bora descer sentido Tronqueira, descida
relativamente complicada.
A trilha é bem aberta, porém muita pedra no caminho,
tendo que tomar muito cuidado pra não torcer o pé, e com o grande fluxo de
pessoas, atraso na trilha era inevitável, porém fim a turma rápida ganhou a
frente e fiquei pra trás com a Luciane, Reginaldo Mendes, Rafaela e o Marido da
mesma, pela trilha ainda deslumbramos do rio ao lado, com várias quedas de
água, formando um visual muito bonito. Com certeza uma aventura que ficará guardada não apenas em fotos de facebook , mas em nosso coração. No fim nada
melhor que uma boa janta no restaurante ao lado do camping, um bom banho quente
para tirar nossa inhaca e um bom papo, risadas e uma boa bebida com os amigos
de trilha, marcamos nossa saída pra 05:00 horas da manhã, levantamos ás 04:00
arrumamos nossa mudança e bora van Curitiba, a volta bem tensa, pois ficamos 21
horas na estrada, alguns com a bunda quadrada, outros com dores de cabeça,
outros com ânsia de vômitos e diarreia. No final sabemos que tudo valeu a pena
e que ano que vem se Deus permitir, faremos novamente essa ou outras travessias
nesse Brasilsão de Deus.
Um agradecimento a todos os 15 guerreiros e a
motorista Bob que foi nosso guerreiro na boleia da van, difícil terminar um
relato, tudo que escrevermos será pouco para representar nossa aventura em
terras desconhecidas para nós.
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