"Poderia aqui resumir essa jornada à Serra do Caparaó como loucura pura, não pela dificuldade da trilha, que afetou mais a respiração devido a altitude, afinal não é todo dia que você está cima dos 2.500mts de altura, mas enfrentar uma viagem de 18 horas de ida numa van com mais 14 loucos, dormir esprimidos, cansados e ainda ter força pra realizar nosso sonho e ainda tirar forças e enfrentar 21 horas de retorno, com certeza os normais nunca vão entender, mas pra nós loucos, estar em lugares assim, nos fazem viver a vida, sentir o sangue pulsar quente, sentir o cheiro do ar puro, ouvir o pulsar do nosso coração, saber que estamos vivos, não tem preço, garanto que enfrentaríamos tudo novamente, afinal ser louco não é pra qualquer um. "Edinaldo Couto
O
Preparo
Já
havia muitos anos que a vontade de fazer o Pico da Bandeira era enorme mas a
distância era o fator que mais pegava nessa empreitada e, também o custo que
alguns cobravam para ir daqui de Curitiba-PR até Alto Caparaó-MG. Orcei uma van
com “carretinha”, entrei em contato com alguns amigos da região para pegar o
máximo de informação possível, os quais me indicaram lugares para acampar e
também alguém para nos levar até nosso destino que era o Pico da Bandeira, uma
montanha nada muito complicada ou tão difícil assim de fazer. Mas como queríamos
muito mais, por que então não fazer a travessia de ES até MG passando por três
das mais belas montanhas da região? Bandeiras com 2.892, Calçado com 2.849 e
Cristal 2.770 metros, as quais estão entre as 10 mais altas do Brasil. Para
isso era preciso só encontrar alguns loucos para essa empreitada, o que não foi
difícil, afinal quem ama montanhismo está disposto a tudo. Então convidei
alguns amigos para dividir tudo e todos toparam de imediato.
A
viagem
Foram
8 meses de estudo sobre a trilha, preparando a logística, mudando trajetos e
pegando o máximo de dicas possíveis. Fechei um pacote com o Roberto do
Restaurante Mineiro, que tem toda a estrutura que precisamos, camping,
restaurante e Jeep 4x4, para nos levar até ao começo da trilha.
Saímos
de Curitiba no dia 28/04 as 20:00. Nossa previsão de chegar até ao Alto Caparaó
era as 14:00 do dia 29/04, uma viagem longa, com duração de 18 horas, contando
com paradas para banheiro e refeição. Foi uma viajem tranquila, sem trânsito
chato e uma equipe bem animada. Utilizamos o revezamento de assentos dentro da
van para evitar cansaço muscular. A van puxava uma “carretinha” com todos os nossos
equipamentos de camping, evitando apertos dentro da van. Combinamos com
todos que cada um levaria alguma coisa para tomarmos café na ida. Entre 7 ou 8
horas da manhã começamos a procurar um lugar apropriado na estrada para
pararmos e tomamos nosso café. Bem pra frente da cidade de Resende - RJ encontramos
um posto e do lado um bar com mesas, mas não tinha ninguém no local. Mesmo
assim encaramos! Entramos, um pouco preocupados, pois estávamos lá sem
autorização, juntamos umas mesas e lá mesmo tomamos aquele café reforçado.
Ninguém apareceu e conseguimos tomar nosso café
tranquilamente. Ao sairmos deixamos tudo limpo. Continuamos nossa viajem e a
próxima parada seria somente para almoçar. Depois do almoço já estávamos a 100
km do Alto Caparaó, mas parecia que não chegava nunca, uma eternidade! Nossa
previsão de chegada ao destino era as 14:00 horas, pois tínhamos um projeto de
conhecer o Vale Encantado, mas já era em vão, isso não aconteceu! Já passava
das 15:00 quando chegamos ao Alto Caparaó. Tiramos algumas fotos do portal e fomos
para o camping, onde o pessoal do Restaurante Mineiro nos esperava. Chegamos,
desmontamos as coisas e dispensei o motorista, que ficou na pousada Bistrô. Depois
de camping montado, banho tomado, jantamos e fomos conhecer a pequena cidade do
Alto Caparaó.
30/04/2017
A travessia ES/MG
Já
tínhamos tudo em mente como seria nossa travessia, só não era certeza se
começaríamos pelo lado do MG ou ES, mas com algumas orientações e todo o
suporte do Roberto, decidimos começar por ES mesmo.
No
domingo dia 30/04 acordamos bem cedo, tomamos aquele café reforçado no Restaurante Mineiro e partimos
com os Jeeps 4x4 até Pedra Menina - ES, onde está a portaria do Parque Nacional do
Caparaó (lado ES). A viajem até Pedra Menina é longe, saímos as 7h para começarmos
a trilha as 9h. Uns 50 km separam o camping onde estávamos até a portaria do
lado ES. A estrada depois da portaria é bem chata de fazer. Com 4x4 já é difícil
imagina com carro pequeno? Mesmo assim vimos alguns carros parados lá no
camping na Casa Queimada. A estrada é alta e alguns trechos com muito barro por
causa da chuva. Acredito que alguns que estavam com seus carros, aguardavam o
momento certo para sair do parque com estrada seca.
Começamos
nossa trilha as 9:10h. Depois de algumas fotos, combinei o resgate com o
Roberto e partimos trilha acima. No começo da trilha tem uma subida um pouco pesada.
Foi um momento que exigiu muito da respiração, pois estávamos a mais de 2.400
de altura. Nesse nível, é possível sentir o ar um pouco pesado e o ideal é
começar lentamente até o corpo se acostumar. Nosso destino era o pico Cristal. Encontramos algumas pessoas tanto descendo da
montanha como subindo.
Pico
Cristal 2.770 metros a 7° montanha mais alta do Brasil.
O
Pico Cristal é a montanha mais alta localizada inteiramente dentro do
território de Minas Gerias e já foi considerada a 4° mais alta do Brasil
perdendo esse posto depois da última medição realizada. O Pico do Cristal é um ponto maciço que possui
essa denominação devido a suas abundantes formações rochosas de quartzo, apresentando paisagens de extrema beleza e sendo
considerado por alguns um local mais impressionante que o próprio Pico da
Bandeira, onde a vegetação é formada basicamente por bromélias e lírios sobre afloramentos rochosos, sendo o local
parte da zona de maiores altitudes do parque. (fonte:
Wikipedia).
Estávamos há mais de uma hora e meia caminhando quando avistamos uma subida
mais intensa que levava até o pico do Calçado, onde, para a minha mente, era o
local que se iniciava a trilha para o Cristal. As únicas informações que eu tinha
era “só seguir os totens”. Não há placa informando a direção da montanha.
Acabamos passando direto pela bifurcação e descobrimos, através de alguns
montanhistas que a entrada era mais abaixo. Já estávamos
bem próximo ao Calçado quando descobrimos isso! Resolvemos voltar até a
bifurcação, onde tem em uma pedra com o desenho de um X e um totem indicando o
local. Para nossa sorte o Percio estava com a trekking da trilha, mas mesmo
assim alguns totens nos confundiam. Seguimos para um morro acima e pegamos à
direita, mas o correto é sempre estar à esquerda. Como não tínhamos a visão do
Cristal por causa da forte neblina ficamos bem perdidos. No entanto, com
paciência eu, a Fernanda o Percio e o Sandro descemos confiando um pouco no
GPS e evitando os totens de pedras, pois haviam muitos espalhados pela
montanha. A outra parte do pessoal que estavam conosco havia ficado no cume do
outro morro, enquanto nos localizávamos. Logo avistamos algumas silhuetas, e
percebemos que estávamos na trilha correta. Esperamos o restante do nosso grupo
e agora era só seguir alguns totens de pedras, e subir sem erro. O Cristal é
uma montanha pouco visitada, é preciso fazer uma “escalaminhada” para chegar
até o topo. Com cuidado e com muita calma, seguimos em trechos de rocha e muita
pedra, passando por obstáculos não tão complicados, mas que requerem cuidado.
Depois de 3 horas de caminhada chegamos ao cume do Cristal. A serração estava
bem forte, por razões climáticas a neblina desceu um pouco, foi possível
ver alguma coisa lá de cima. Fizemos um bom lanche pois já passava das 12:00h,
depois descemos com cuidado. Pegamos a
trilha correta e voltamos até a base do Pico do Calçado.
Pico
Calçado 2849 a quarta montanha mais alta do Brasil e Pico da Bandeira com 2892
metros
Para
quem vem da portaria do lado ES o Calçado é o portal para se chegar até o
Bandeiras. Seu nome se dá por causa da vista que, dependendo do ângulo, tem a
formação de um calçado. Depois de 6 horas de caminhada chegamos ao cume dessa
montanha e já era possível avistar o Pico da Bandeira. Paramos para um lanche,
tiramos várias fotos e logo partimos rumo ao pico da Bandeira, a terceira
montanha mais alta do Brasil, a mais alta da região sudeste e também a mais
alta do Brasil em 100% dentro do território nacional. Tem esse nome por causa
da história do nosso país. Por volta de 1859, o
imperador Pedro II determinou que
fosse colocada uma bandeira do Império naquele que, na época, era tido como o
ponto mais alto e imponente do Brasil (fonte: Wikipedia).
Chegamos
ao cume já passava das 14 horas e ali já haviam várias pessoas de toda a
região. Contemplamos, curtimos aquele momento e tiramos muitas fotos. Por
alguns instantes a serração forte baixava e era possível ver um pouco além, mas
logo ela subia e assim perdíamos a bela vista. Não tinha vento e não estava
frio, mas nada de vista! Peguei algumas informações com um guia da região que
estava com um grupo de mais de 30 pessoas e ficamos lá mais uma hora
contemplando aquele momento. Foi quando percebemos que só nós estávamos no
cume. Já estávamos caminhando há mais de 6 horas, desde a Casa Queimada, agora
era nos despedirmos de mais uma montanha conquistada e descermos até o Tronqueira.
O
Fim da Travessia
Começamos
a descer da montanha sentido Tronqueira, passamos pelo grupo de jovens que
descia a montanha também e até tiraram fotos conosco. A trilha desse lado é
mais limpa, tem mais água para pegar e bem pouco barro. Passamos por algumas
cachoeiras e em pouco mais de uma hora chegamos ao Terreirão, um camping muito
utilizado para se fazer ataque até o cume. Avistamos a casa do Terreirão que já
foi palco da Guerrilha do Caparaó entre o Espirito Santo e Mina Gerais. Segundo
informações que peguei a casa era usada para reunião de alguns guerrilheiros
que ao serem descobertos foram presos. Alguns das nossa turma já estavam
bem além de nós na trilha. Sem demora partimos destino Tronqueira. Ainda faltava
mais de 3,5 km de caminhada. Já era de se esperar que pegaríamos um pouco da
noite na trilha.
Depois
de 9 horas de caminhada chegamos em Tronqueiras, onde o Roberto nos esperava e
também o resto da nossa equipe. Já estava escuro. Ficamos um pouco preocupados
com o grupo do outro guia que estava na montanha, descobrimos que muitos não
tinham lanternas, mas até onde eu sei tudo deu certo para eles também. Partimos
para o camping e sujos, do jeito que estávamos, fomos jantar e comemorar mais uma
conquista. Depois do banho, agora era só aproveitar o momento
entre amigos e dar muitas risadas sobre o que aconteceu na montanha.
01/05/2017
O retorno pra casa, 22 horas dentro de uma van.
Decidimos
não tomar o café no Restaurante Mineiro assim ganharíamos tempo para chegar o
mais rápido possível em casa. Acordamos as 4h da manhã, desmontamos tudo e
partimos em direção a nossa cidade. A Rafa, esposa do nosso amigo Jhonatan,
estava passando mal. Descobri que ela estava assim em quase toda a trilha que
tínhamos feito no domingo, não deve ter sido fácil pra ela o retorno pra casa. Nos
revezando o tempo todo dentro da van. Já passava das 19
horas quando chegamos em São Paulo. O transito ali estava bem tenso e chato,
perdemos um precioso tempo nesse trecho. Por volta da 23:00 chegamos em
Registro e às 2 horas da manhã finalmente chegamos em Curitiba.
Foram
mais ou menos 40 horas dentro de uma van e 9 horas de trilha. Aí eu pergunto: o
que é mais difícil aguentar esse tempo todo dentro de uma van ou fazer uma
longa trilha? Eu prefiro trilha! Mas digo que as 40 horas na van foi muito
bacana, muitas risadas, assistimos ótimos filmes e ouvimos boa música, deixou
uma saudade no coração e um gostinho de “vamos voltar um dia”.
Agradecimentos:
Ao
nosso motorista Bob que nos passou toda a confiança no volante sendo um ótimo
motorista. Roberto do Restaurante Mineiro que nos deu todo o suporte que
precisávamos, como camping, janta, café da manhã e auxilio com o 4x4 e também
nos provou que o povo mineiro é simpático de mais, sô! À pousada Cantinho Bistrô por
acolher nosso motorista. Sairo C. Guedes e Anderson R.Estevanovic guias da região que
me passaram várias dicas do local. E, acima de tudo, a Deus que nos
proporcionou uma linda aventura.
Montanhistas:
Reginaldo Mendes
Paula Lipinski
Beatriz Andreis
Douglas Rengel
Tere Tessaro
Edinaldo Couto
Sergio Emiliano
Perla Steil
Percio Sousa
Fernanda Lopes
Raphaela Cristina
Jhonatan Bortolato
Sandro Godoy
Fernando Ferreira
Luciane Wamser
Nosso café da manha na estrada |
Faltando pouco para chegar em Alto Caparaó |
Relaxando antes da subida do dia seguinte |
Portal do Alto Caparaó |
Vamos nessa que o dia promete |
Chegando na portaria do lado ES |
As meninas: Perla, Beatriz, Paulinha, Tere, Fernanda, Luciane e Rafa |
Os Meninos: Fernando, Sandro, Douglas, Percio, Edinaldo, Reginaldo, Sergio, Jhonatan |
O Começo da trilha |
No pé do Cristal |
Cristal mostrando as caras |
Cume Cristal |
Cume Cristal |
A subida foi tranquila |
Ponto de referência para se chegar ao Cristal deve pegar a esquerda |
Cume do Calçado |
Chegando no Calçado |
É possível avistar o Bandeiras |
Bem próximo do Bandeiras |
No cume do Bandeiras |
Para você Arthur |
Terreirão |
Fim da travessia |
A saideira |
Um abraço a todos e até a próxima.
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